e contra o fascismo
Imperialismo instiga <br> violência golpista
O governo da Venezuela acusa os EUA e os seus operacionais de estarem por trás da violência desencadeada no país, acompanhada por uma campanha de manipulação visando branquear a acção golpista de grupos fascistas.
Para a tarde de anteontem, terça-feira, em Caracas, estavam convocadas duas manifestações antagónicas: uma das forças progressistas anti-imperialistas e revolucionárias que apoiam o processo bolivariano e o governo liderado por Nicolás Maduro, e outra encabeçada por Leopoldo López, líder do Partido Vontade Popular e quadro do imperialismo (ver artigo de Jean Guy Allard no Granma de dia 18), que as autoridades venezuelanas acusam de ser o animador da campanha violenta golpista denominada de «A Saída», a qual, desde a noite de quarta-feira e madrugada de quinta-feira, 12 e 13, já vitimou três pessoas e deixou mais de seis dezenas de feridos em todo o país.
As autoridades afirmam que as vítimas foram falsamente apresentadas como membros da oposição. Duas delas foram mortas com a mesma arma e a terceira foi executada por um bando de perfil semelhante aos que, em Abril de 2002, lançaram o terror durante a intentona (na qual López foi um dos cabecilhas) para derrubar o então presidente Hugo Chávez.
Entretanto, a televisão pública venezuelana informou que um grupo de 300 mercenários foram contratados para voltar a incendiar os ânimos. A estratégia é a da confrontação aberta da manifestação convocada pelo Governo, na qual se previa que, tal como no sábado, 15, em Caracas, e quarta-feira, 12, em Aragua, participassem milhares de trabalhadores e populares membros de organizações políticas, sociais e comunitárias em defesa da paz e contra a violência fascista.
O golpe goza do apoio público e de bastidores do imperialismo norte-americano, como tem denunciado o presidente da Venezuela. Em resposta ao declarado apoio do secretário de Estado norte-americano a López e aos seus grupos violentos, Maduro lembrou que a Venezuela não recebe «ordens de ninguém» e confirmou a expulsão de três diplomatas dos EUA (em Novembro de 2012 já haviam sido expulsos outros tantos), envolvidos na conspiração iniciada há meses com dezenas de visitas a universidades e promessas de bolsas e vistos, disse.
«O monstro decidiu actuar e mostra o rosto», sintetizou Nicolás Maduro, domingo, 16. Na ocasião indicou igualmente que a desestabilização protagonizada por grupos financiados pelos EUA envolve o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, reiterando a acusação feita durante a grande acção de massas promovida no dia anterior, onde sustentou ter provas de tal facto.
Manipulação
Na terça-feira, 11, no programa Zurda Konduta da VTV, foi divulgada uma conversa telefónica entre o ex-chefe da Casa Militar do governo de Carlos Andrés Pérez e o embaixador venezuelano na Colômbia. O segundo alerta o primeiro de que na quarta-feira, 12, haveria mortos como em 11 de Abril de 2002. Confirma-se que o planeado nunca foi um «protesto pacífico» dos jovens estudantes no seu dia. Fotos disponibilizadas, segunda-feira, 17, à comunicação social pela Embaixada da Venezuela em Portugal, mostram, aliás, que os propósitos dos jovens que lideraram os primeiros protestos em Caracas, bem como os subsequentes, eram cumprir a violência programada, intuitos igualmente expressos, segundo a mesma fonte, em mensagens na rede Twitter onde admitem ter vontade de matar todos os «chavistas».
A popular rede social que na Venezuela é palco de intensa batalha informativa, foi, também, veículo da manipulação, com a publicação de fotos da repressão de manifestações no Chile, Egipto, Tailândia, Brasil ou Bulgária, de procissões religiosas e de um cordão humano a favor da independência da Catalunha, como se de iniciativas da oposição venezuelana se tratassem, prontamente difundidas pelo espanhol ABC ou a CNN.
Acresce, como denunciou, no dia 13, o presidente Nicolás Maduro, a existência de vídeos onde se atesta a conduta irascível das hordas fascistas; onde se vê López a garantir a uma jornalista que só vão parar de destruir quando derrubarem o poder; a manipulação de fotos por parte da AFP, disse o presidente; uma ofensiva pirata lançada contra mais de 60 sites do governo e meios de comunicação social em menos de 48 horas, e a campanha pró-golpista debitada pelo canal colombiano NTN24, entretanto suspenso na Venezuela.
A campanha golpista iniciou-se dia 3 de Fevereiro com a convocatória para a Marcha do dia 12. Horas antes, o vice-presidente venezuelano para a Área Económica e presidente da estatal petrolífera, admitia a escassez de 40 produtos básicos, explicando que a situação está na base da aprovação da Lei dos Preços Justos e do controlo estrito do uso de divisas na importação de géneros essenciais e à manutenção de serviços públicos, mas alertando para a especulação dos preços, o açambarcamento e o contrabando promovidos por sectores interessados em restaurar a vassalagem ao imperialismo no país.
As carências e a inflação, aliadas à propagação da ideia de um país abafado pela repressão, são, assim, como o foram no derrube do Chile popular de Allende, as condições nas quais os golpistas julgam encontrar pasto fértil para avançar.
Solidariedade
Face aos acontecimentos na Venezuela, o PCP emitiu, sexta-feira, dia 14, uma nota de imprensa na qual «condena veementemente os actos de violência e vandalismo perpetrados por grupos de cariz neofascista que provocaram a perda de vidas e a destruição de bens públicos», denuncia «os objectivos antidemocráticos e golpistas de mais esta campanha desestabilizadora levada a cabo contra a revolução bolivariana pelas forças da reacção e direita venezuelanas, articuladas e apoiadas pelo imperialismo norte-americano», e nota que tal acontece quando «as legítimas autoridades da República Bolivariana da Venezuela promovem a melhoria das condições de vida da população e intensificam as medidas de combate à especulação e guerra económica que visa desestabilizar o país».
No mesmo sentido, o Conselho Português para a Paz e a Cooperação sublinha que «aqueles que perderam sucessivas eleições continuam a recorrer a todos os meios, incluindo à violência, para alterar a ordem constitucional e anular a vontade do povo, expressa livremente». A Cooperativa Mó de Vida repudiou por seu turno o tratamento mediático dos acontecimentos por parte da generalidade da comunicação social, que «ocultou factos importantes com o objectivo de induzir uma opinião» favorável aos envolvidos no golpe.